Era um domingo de um mês qualquer, assolado pelo habitual calor insuportável daquela cidade. Um grupo de amigos ia a uma festa, um churrasco no clube. O evento começaria na parte da manhã e iria até a hora da cerveja acabar. Esses amigos se interessavam por política, música e artes. Alguns mais, outros menos. Uns muito, outros pouco. Na festa, pulos olímpicos na piscina, conversas indecentes e carne vermelha no prato se alternavam. Definitavemente não se tratava de uma juventude transviada. São todos bons filhos, passaram no vestibular e mantém o quarto arrumado. Alguns inclusive eram religiosos e iam para a igreja ainda nesse dia, após a cerveja/festa acabar. As horas vão passando e aquela sensação de que tudo está certo plaina placidamente. Um olhar exterior podia muito bem confundir a cena com uma propaganda de pasta de dente, com sorrisos infinitos e felicidade transbordando da piscina – a piscina com a água mais clara e refrescante que você já viu. Tudo embalado em ritmo lento, em slow motion. O grupo de grandes amigos conversa sobre as eleições desse ano e toda a pobreza de espírito dos governantes desse país. São jovens esclarecidos.
Após horas na piscina, eles decidem ir para a quadra do clube, jogar bola numa quadra de cimento. Quando estavam para iniciar o jogo, percebem uma piscina de plástico numa parte do campo, quase em frente a um dos gols. Era uma daquelas piscinas em tons de azul, pouco resistente, com validade máxima de um verão. Estava ali, enchida pela metade, sobre a quadra cinza. No entanto, nenhum deles pareceu estranhar o fato da piscina estar ali, sem gente, na quadra. Na verdade, todos eles encararam o fato como se em todas as quadras cinzas de futebol, de todos os clubes, houvesse sempre uma piscina de plástico semivazia perto de um dos gols. A idéia do jogo é rápida e facilmente esquecida.
É, então, que um dos amigos avista uma menina que se aproxima cambaleado da quadra. O que era um borrão avistado de longe, aos poucos vai tomando forma e delineando um corpo de uma moça. Bonita. Está visivelmente fora de si. Tropeça e fala besteiras, mas ninguém presta muita atenção nisso. Como dito, a moça é atraente. Uma morena com um pequeno bikini azul. Algumas palavras sem importância são trocadas, interrompidas por soluços bêbados, mas o que mais se escuta são as gargalhadas esporrentas dos amigos diante da cena. Um deles, passa seus braços em volta do corpo esguio da menina e tenta dar-lhe um beijo. Ela o empurra de forma desengonçada e ele a respeita. Mais gargalhadas. Depois é a vez de um outro amigo tentar tirar algum proveito. Dessa vez, a mocinha parece nem sentir a mão pesada e áspera que repousa em sua coxa. Os amigos fazem uma espécie de círculo desarrumado em volta da menina, onde risadas, passadas de mão e palavras alternam-se. Uma hora os olhos dela começam a fechar-se e seu corpo a perder a força. Ela cai no chão, mas tomba lentamente, já que algumas mãos (bobas) amortecem sua queda. Com a menina prostrada no chão, os amigos não mudam de posição.