E agora ? O que a gente faz ?
Sei lá ...Taca fogo.
Fogo? Sério?!
É,
taca fogo nessa porra.
Um isqueiro aceso, com uma pequena chama é lançado por um dos amigos. A combustão é imediata. Parece que suor e cerveja são o combustível ideal para se queimar uma jovem menina bêbada. Logo o corpo da garota desaparece, dando lugar a uma gigantesca fogueira. No entanto, não há o cheiro insuportável e os gritos desesperados que se espera de um corpo humano sendo queimado vivo. Pelo menos ninguém sentiu ou ouviu nada. Os amigos observam a triste cena impassíveis. Mais uma vez, a velocidade é de câmera lenta. Os rostos de cada um apresentam os mesmos traços de quando chegaram no churrasco, porém um pouco mais suados. O som das gargalhadas dá lugar a um silêncio profundo abalado somente pelo som da queima de tecido humano. Não há surpresa, nem pavor, nem nada parecido com uma reação vindo dos rapazes. Ausência total de tudo. Cessado o fogo que, curto e intenso, apagou-se em menos de dois minutos, o chão antes cinza de cimento é agora preto de carvão. Restam ali, as cinzas da menina. Cinzas bem claras, quase brancas. Eram bem pequenas, parecidas com pedacinhos de papel rasgados de uma folha de caderno.
E agora?!
Sei lá...
Bota na água que cresce de novo.
As cinzas?
É, pô.
Um dos amigos, Paulinho, pega as cinzas com cuidado e as joga na piscina de plástico. Algumas ainda esvoaçam de sua mão antes de serem atiradas. Todos assistem a cena, com emoção semelhante a de um ateu que assiste uma missa. Impávidos, eles seguem para fora da quadra. Um dos amigos (o que tivera a idéia do que fazer com os restos da menina) ainda vira a cabeça e olha para o conteúdo da piscina. As cinzas, pequenos pedaços de papel, bóiam na água limpa e calma – a mais clara e refrescante que você já viu. E assim permanecem.