Vídeo que fiz com um celular Motorola U9, filmando da minha varanda o movimento dos carros embaixo. Os efeitos foram todos feitos na captação. A música é um trecho de "Red Rabbits" da ótima banda The Shins.

Enjoy!






same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was same as it ever was





aqui estão alguns instântaneos capturados aleatoriamente por mim em minhas andanças por ai. todas as fotos foram tiradas com meu ex-celular, um nokia meia boca, sem nenhum tipo de tratamento digital. para ampliá-las basta clicar.












É possível cruzar Israel de ponta a ponta em seis horas. Metade desse tempo é gasto só para atravessar o deserto de Negev, quilômetros infindáveis de areia, pedras e vazio que observo da minha janela, sentado na poltrona 11. Engraçado pensar quantos tiros, mísseis e vidas Israel gastou para poder chamar esse latifúndio inóspito de seu. Depois que uma guerra começa, não há retorno, não há empate. O que importa é ganhar, tanto faz o que: poder, dinheiro petróleo... ou simplesmente, areia, pedras e vazio.

Os beduínos remanescentes vivem hoje vendendo seus costumes e folclore para os turistas passantes, que estacionam seus grandes ônibus platinados em volta das tendas para dormir algumas noites como “um verdadeiro beduíno!”. Comem a comida típica deles – mãe, tem que ser com a mão? -, andam de camelo – tira a minha foto aqui em cima! – e vêem shows ao vivo – clap, clap, clap, agora toca uma em hebraico.

Estou a caminho de Eilat, a Punta del Este israelense. A cidade fica na última pontinha de terra do sul do país. No ônibus que peguei a coisa menos estranha que meus olhos encontram é o hebraico dos avisos e placas, o que por si só já me é suficientemente bizarro. Acho hieróglifos egípcios mais acessíveis, com seus desenhos bonitinhos de animais. O gato, por exemplo, significa gato, certo?

Ao meu lado, assentos 13 e 14, um casal de judeus ortodoxos toma uma sopa de legumes numa garrafa de gatorade. O vidro translúcido me permite ver pedaços de cenoura e batata movendo-se placidamente naquele grosso caldo. Pelo menos não precisam sujar colher. Os dois romanticamente dividem aqueles 473 ml de sopa de legumes e depois limpam com as costas da mão o bigodinho bege que fica depois de cada gole.

Um pouco mais atrás um grupo de americanos acabam de se conhecer – oh my gosh, I can`t believe we went to St. Paul`s High together, that`s sooo awesome!. Falam e gesticulam como os personagens dos seriados que assistem. I think someone watched too much television here.

Na minha frente, um homem negro escreve mensagens em árabe no seu celular, enquanto o seu vizinho brinca de matar pedestres e bimbar prostitutas no seu videogame portátil. A maioria dos outros lugares são ocupados por jovens israelenses soldados, o que é uma redundância, já que todo jovem em israel é soldado, sabe atirar e tem uma arma a tiracolo. Eles, soldados e armas, são tantos que muitos tem que deitar pelo chão do ônibus ou ficar em pé a viagem toda.

Escureceu. A paisagem, antes dourada, agora é cinza. Estou com hálito de alho - na rodoviária, atrasado para embarcar: - “Oi, eu queria um sanduíche com atum, queijo, cogumelos, cebola, molho pesto, tomate, alface e bastante pasta de alho” - , confuso e feliz. Algo me diz que ainda há muitos desertos pela frente.





eu idolatro: B-52`s. Chame-os de criativos, non-sense, dadaístas, “reis da new wave”, festeiros, o que for. Eles são, acima de tudo, bons. Muito bons. O grupo quando surgiu parecia coisa de outro mundo. Alienígenas de Atlanta, apática cidade norte-americana, fazendo músicas sobre lagostas roqueiras, festas fora de controle, quiche lorraine, lugares perto de Vênus, pássaros grandes, Mesopotâmia, copiadoras de dinheiro e outros temas rotineiros.

No momento, eu e minhas caixas de som estamos conhecendo “Funplex” pela primeira vez. O novo disco do grupo vem romper o hiato de 16 anos sem gravar material novo. Não cheguei nem na metade ainda, mas já arrisco dizer que é o melhor deles desde o falecimento do guitarrista original, Ricky Wilson. É bem verdade, porém, que a banda não é a mesma depois que Ricky se foi. Seu estilo de tocar dava à banda uma sonoridade mais orgânica, tão tosca quanto charmosa. Seus riffs minimalistas meio surf music meio funk meio não-sei-o-quê, tocados na sua guitarra de quatro cordas (ele arrancava as outras duas), eram quem ditava o ritmo nas canções dos B`s. Baixo não havia, a não ser quando era feito com teclados. A bateria de Keith Strickland, atual guitarrista, seguia uma batida única por quase toda a canção. Era, portanto, os movimentos de Ricky que produziam os altos e baixos no ritmo das composições. Na maioria das vezes, começava devagar e terminava incendiando (vide “Rock Lobster”, “Runnin around” e tantas outras).

Mas, chega de nostalgia e voltemos para “Funplex”. A música que abre o álbum é “Pump”, que quem é fã já deve ter conhecido em andanças pelo mundo virtual. Primeira coisa que me chamou a atenção foi a programação eletrônica, que tem um timbre parecido com... LCD Soundsystem. Isso mesmo, LCD Soundsystem. O B-52`s, já quase-vovôs, estão antenados no que está rolando por aí, logo não é à toa que o disco soe atualíssimo. Em declarações recentes, a banda afirmou que Gossip, Rapture e Scissor Sisters não saem de suas playlists.

“Eyes wide open” é emblemática disso. É a faixa mais eletrônica do álbum, quase não tem guitarra. Até os vocais de Kate e Cindy entrarem, ninguém diria que se trata de uma banda que toca desde o final da década de 70, de tão contemporânea que soa. Palmas para o momento instrumental de quase dois minutos no fim da música.

“Too Much to think about” remete ao B-52`s do começo da década de 90, quando retomaram às paradas de sucesso com “Love Shack”. “Funplex” tem o melhor refrão do disco. “Keep this party going” é quem fecha dando a pista: foi a última música, mas a festa continua – dá pra dar repeat no CD, esperar o próximo lançamento, ou ainda resgatar qualquer outro da discografia deles. Todas as alternativas são garantia de boa festa.

As letras continuam abordando temas triviais do nosso cotidiano como espíritos, amor nos anos 3000, festas (ah, tinha que ter), helicópteros rosas e especiarias curiosas. Fiquei feliz de escutar de volta a percussão de Cindy Wilson, uma das vocalistas, presente em alguns momentos. Queria também a Cindy Wilson de 1980 de volta, mas aí já é mais difícil (olha que gracinha ela aqui). Sua voz permanece impecável, assim como a de Kate Pierson, sua parceira nos microfones. A união dos timbres dessas duas cantoras tem até hoje um resultado assombrador, melhor voz pra pop não tem. Suas cordas vocais foram feitas uma pra outra, sem dúvida. O ménage à trois é completado com Fred Scheneider, que canta falando, ou vice-versa?, e dança comicamente bem.

Os downsides de Funplex: a produção, um pouco exagerada, anula aquela verve tosca e espontânea da banda à qual me referi. Mas isso já foi perdido desde que Kate não assume mais os teclados e a banda contratou outros músicos profissionais para acompanhá-los. A capa do disco ficou cafona, ainda mais se a compararmos com a obra de arte que é a do álbum de estréia. Strickland se esforça para criar sua linguagem própria nas guitarras, sem desprezar o estilo de Ricky, mas não tem lá muito sucesso. Acho seus riffs modernosos demais para o B-52`s, além de precisarem de um pouco de sal. Quem sabe se ele tirasse duas cordas do instrumento...

Mas o que importa mesmo é que a banda lançou um disco de inéditas. Superando a efemeridade dos hypes todos, o B-52`s mantém transformando sua bizarra irreverência em música. Cresci escutando o grupo, meus pais são fãs e estavam no show deles no Rock in Rio I. Ano passado, tive a oportunidade de vê-los no festival Benicàssim, na Espanha, e confesso que até hoje não consegui digerir direito o que vi e senti. A felicidade foi proporcional ao choque de vê-los enrugados, sem aquelas perucas enormes e as roupas espalhafatosas. Na coletiva de imprensa, repórter nenhum fez pergunta. Por mais óbvio que isso seja, o tempo havia passado. Eu sei, sempre passa. Mas, às vezes, me parece, isso é mais perceptível e mais doloroso de aceitar. Tive uma nostalgia de algo que nunca nem vivi.